Uma cultura vem preenchendo uma lacuna nos campos da região, que não têm pecuária, no período do inverno: o trigo. Na safra 2022/2023, 80 produtores de 14 municípios da região, decidiram investir na cultura, que ocupa uma área de 16,2 mil hectares, a maioria em áreas que serão destinadas à soja, no verão. A área inicialmente planejada para plantio era de 17 mil hectares. No entanto, as chuvas abundantes, durante o mês de julho, impediram os produtores de concluir a semeadura, pelas péssimas condições do solo para o tráfego de máquinas.

O produtor José Fernando Konzgen, da Colônia Py Crespo, em Pelotas, produz 400 hectares de soja no verão. Neste ano, ele resolveu plantar 75 hectares de trigo, com a variedade precoce Dominador, mas teve que abandonar em torno de 35 hectares, por causa do clima. "Não tenho pecuária e o trigo irá me proporcionar um ganho a mais no inverno", além de deixar a terra pronta, após a colheita, para receber a soja na resteva, diz.

A maior parte das lavouras se encontram no período de desenvolvimento vegetativo e florescimento e uma pequena parte em enchimento de grãos. O estado fitossanitário é bom e o desenvolvimento está dentro da normalidade. As boas condições de clima acompanhado de boa luminosidade, temperaturas amenas e
mais elevadas em alguns dias, favorecem e aceleram o desenvolvimento das plantas.

Os produtores concluíram a adubação em cobertura e seguem com o manejo químico preventivo com fungicidas para evitar as doenças, especialmente na floração, fase em que a principal praga da cultura, a giberela, costuma atacar, explica o extensionista da Emater Pelotas, Luciano Ossanes.

O extensionista explica que Pelotas está no segundo ano de cultivo do grão, a maioria em áreas pequenas, que historicamente eram usadas para pecuária. "De um ano para o outro a área dobrou e passou de 150 para 300 hectares", ressalta. Isto se deve às variedades adaptadas para a região, pelo menos três, precoces e superprecoces, entre elas, a mais usada é a Audaz, em praticamente 70% da área.

O resultado vem em produto de excelente qualidade, com PH acima de 78, ideal para a produção de pães e com preço valorizado, diz. "Nós temos uma área grande para expandir, com muitos plantios de verão, como a soja, áreas que podem ser usadas para trigo no inverno, já que a colheita é feita até o final do mês de novembro e a soja é plantada em dezembro, diz.

Tradicionalmente, o trigo é semeado no final do mês de maio, segue em junho e finaliza em julho. O objetivo é evitar que na floração e granação, as lavouras sejam atingidas por frio e geadas tardias. A colheita inicia em novembro e se estende até o início de dezembro.

A importância do cultivo do trigo é importante por oferecer aos sistemas de produção, opções para rotação de culturas, serve como cobertura permanente do solo, e após a colheita, deixa uma ótima palhada para o sistema de planto direto das culturas de verão, como a soja e o milho. "A rotação de culturas é fundamental no manejo do solo e da água, pois além de garantir a e melhorar a qualidade do solo, reflete no resultado da safra das culturas em sequência", diz o extensionista da Emater RS, engenheiro agrônomo Evair Ehlert.
Também auxilia na quebra de ciclos de pragas, doenças e plantas invasoras, além de se constituir em mais um ingresso de receitas para a propriedade rural e otimizar a utilização da infraestrutura, como o maquinário agrícola e galpões, diminuindo os custos de produção do sistema produtivo como um todo.

Outra questão se refere aos empregos temporários gerados por um cultivo anual como a soja, nos plantios e colheitas. "Se entrar mais um cultivo, estes empregos se tornam permanentes". Outros fatores também ajudar a movimentar a economia da região, como fretes, oficinas mecânicas, lojas de insumos, assistência técnica, despachantes e por fim, a renda gerar mais consumo de todos os envolvidos.